da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental
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As perturbações de personalidade (PP) são um tipo de patologia mental caracterizadas por um desvio de longa duração em relação a um dado padrão cultural, desvio este que é generalizado a vários domínios do funcionamento do paciente e que leva a dificuldades no relacionamento consigo mesmo e com os outros [1].
As PP são altamente prevalentes, variando de 3 a 15% na comunidade, até 80-90% em settings de cuidados de saúde secundários [2,3].
As PP constituem uma base a partir da qual podem surgir outras perturbações menos duradouras, criando um certo grau de vulnerabilidade a patologias como a depressão e a ansiedade, tão frequentes na prática clínica. Têm também o potencial de afetar marcadamente o tratamento e prognóstico de patologias concomitantes, levando ao aumento substancial da utilização de serviços de saúde por parte destes pacientes [4,5]. Por exemplo, a associação entre a doença bipolar e a perturbação borderline da personalidade tem sido alvo de vários estudos. Alguns autores salientam a frequente comorbilidade e apontam para um agravamento do prognóstico da doença bipolar, uma vez que sintomatologia relacionada com o abuso de álcool, drogas e outras substâncias, os comportamentos suicidários e impulsividade, frequentemente associados à perturbação borderline, dificultariam o tratamento [6].
Assim, a elevada taxa de prevalência global das perturbações da personalidade bem com a associação com outras palotologias, sugere a necessidade de uma abordagem especializada que contribuiria certamente para uma melhor racionalização dos custos do Sistema Nacional de Saúde.
Para além disso, encontra-se comprovado que psicoterapia e psicofarmacologia adequadas contribuem para uma melhoria sintomatológica nos pacientes com perturbações da personalidade [7].
[1] Millon, T., & Davis, R. D. (1996). Personality Disorders: Issues, principles, and classification. In T. Millon & R. D. Davis (Eds.), Disorders of personality: DSM-IV and beyond. New York: John Wiley & Sons Inc.
[2] Tyrer P, Mulder R, Crawford M, Newton-Howes G, Simonsen E, Ndetei D, Koldobsky N, Fossati A, Mbatia J, Barrett B: Personality disorder: a new global perspective. World Psychiatry 2010, 9:56-60.
[3] Huang Y, Kotov R, de Girolamo G, Preti A, Angermeyer M, Benjet C, Demyttenaere K, de Graaf R, Gureje O, Karam AN, et al: DSM-IV personality
disorders in the WHO world mental health surveys. British Journal of Psychiatry 2009, 195:46-53.
[4] Vrabel KR, Hoffart A, Ro O, Martinsen EW, Rosenvinge JH: Co-occurrence of avoidant personality disorder and child sexual abuse predicts poor outcome in long-standing eating disorder. Journal of Abnormal Psychology 2010, 119(3):623-629.
[5] Bienvenu OJ, Stein MB, Samuels JF, Onyike CU, Eaton WW, Nestadt G:
Personality disorder traits as predictors of subsequent first-onset panic disorder or agoraphobia. Comprehensive Psychiatry 2008, 50(3):209-214.
[6] Ferreira B, Lopes B, Lourenço A, Melo J, Maia T: Doença Bipolar e Perturbação Borderline da Personalidade - Comorbilidade ou Continuum. Psilogos, 2014 vol.1 nr.1.
[7] Verheul R, Herbrink M. The efficacy of various modalities of psychotherapy for personality disorders: a systematic review of the evidence and clinical recommendations. Int Rev Psychiatry 2007; 19: 1–14.
A Secção de Perturbações da Personalidade
pertence à Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) com sede em Lisboa
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